OBRAS DE TRADUÇÃO DE
FEDERICO CAROTTI
no começo desse ano, respondendo a algumas perguntas da jornalista natália albertoni, comentei:
Uma coisa muito importante e fascinante no ofício de tradução é o gosto, o prazer em
fazer aquilo. Transcende o aspecto meramente pragmático do trabalho; abre portas a
uma dedicação de outra natureza: é o que às vezes chamo de “tradução afetiva”. Faz-se
por amor à palavra e também, digamos, por humildade perante uma obra que nos
envolve e nos sobrepuja: o diletantismo na verdadeira acepção do termo. Felizmente,
são muitos os profissionais na área de tradução lítero-humanística (que é a que conheço
melhor) que preservam um bom grau de diletantismo nesse sentido estrito. E felizmente
há editoras que abrigam de bom grado esse diletantismo profissional ou esse
profissionalismo diletante. De entremeio a uma contemporaneidade permeada por
ferramentas de automatização do ofício, existem, pois, os profissionais-diletantes que
prezam mais a artesania das palavras do que a tecnologia de automatização; isto é, são
menos operadores de máquinas e mais “tradutores” na acepção digamos humanista,
atualmente até já obsoleta, do termo. E de entremeio à crescente enxurrada de textos
produzidos por várias modalidades de IA há nichos de artesãos de alta qualidade,
aqueles seres que – curiosamente – têm conseguido escapar à extinção e até, um pouco
aqui, um pouco ali, vêm esparsamente se somando e acrescentando novos nichos.
Sobreviverão? Sem dúvida. A onda avassaladora da automatização da tradução cessará?
Não, de forma alguma; aumentará. Isso é bom, isso é ruim? Não sei e não compete a
mim julgar. O bom, com certeza, é que existam nichos onde se pode tentar,
experimentar, renovar, se comprazer naquela antiquíssima atividade que confere sentido
concreto ao termo “humanidade”: o ofício da tradução.
um trecho desse comentário foi publicado na revista pernambuco, disponível aqui.
em 7 de abril de 1934, galeão coutinho escreve uma carta a mário de andrade, convidando-o para coordenar a coleção cultura musical, de sua recém-criada editora, que então se chamava livraria cultura brasileira e depois ficou mais conhecida como edições cultura brasileira. mário aceitou o convite.
[diga-se de
passagem que fiquei surpresa com a rapidez com que, em veloz sucessão,
começaram a sair os volumes da nova coleção - as primeiras notícias na imprensa
sobre as publicações começam em agosto de 1934]
COLEÇÃO CULTURA
MUSICAL
Direção e
coordenação de Mário de Andrade
1. Vida de Beethoven, Romain Rolland – trad. José Lannes, 1934
2. Vida de
Liszt, Guy de Pourtalès – trad. Leonor Aguiar e C. Fonseca, 1934
3. Vida de
Grieg, Paul de Stoecklin – trad. Nair Duarte Nunes, 1934
4. Vida de
Chopin, Guy de Pourtalès – trad. Aristides Ávila, 1934
5. Vida de
Wagner, René Dumesnil – trad. Maria Ricardina Mendes de Almeida (mais conhecida
como Diná Lopes Coelho), 1934
6. Vida de
Massenet, René Brancour – trad. Maxime Seguin, 1934
7. Schumann: sua
vida e sua obra, Camille Mauclair – trad. José Lannes, 1934
8. Panorama da
Música Contemporânea, André Coeuroy – trad. Maria de Lourdes Cabral, 1935
9. Vida de
Brahms, Willibald Nagel – trad. Joaquim Clemente de Almeida Moura, [1935]
10. Memórias de
Gounod, Charles Gounod – trad. Nair Duarte Nunes, [1935]
11. Vida de
Paganini, J. G. Prod’homme – trad. Pedro Antonio de Oliveira Ribeiro Netto,
[1935]
12. Vida Amorosa
de Bellini, Antonio Aniante – trad. Carlos de Aragão, 1935
13. Vida de
Rimsky-Korsakov, Markévitch – trad. Pedro Antonio de Oliveira Ribeiro Netto,
1935
14. Vida de
Verdi, Marcilio Sabba – trad. Antônio Teles Vasconcelos, 1936
15. Vida de
Paderewski, Henryk Opiensk – trad. [Augusto de Souza], 1936
16. Vida de
Mozart, Henri de Curzon – trad. Edith Magarino Torres, [1937]
17. Vida de Haendel, Romain Rolland – trad. Haroldo Paranhos, 1938
18. Vida de Bach
[subtítulo: Memórias íntimas de Ana Madalena Bach], Anna Magdalena Bach – trad.
[Augusto de Souza], 1938
Extra-série: O romance
de Schubert, Rudolf Hans Bartsch – trad. Pedro e Clemente de Almeida Moura,
1935
só hoje vi uma postagem de 2018 do caetano galindo no blog da companhia das letras. lindinha a postagem sobre a importância da tradução - e agradeço a generosa menção. a postagem se chama em tradução (visibilia) e está disponível aqui.
Traduções de Werther em português
Portugal
João Antonio da Fonseca, Cartas selectas de Werther, traduzidas do francez (1796), Manuscritos da Livraria, Real Mesa Censória, Arquivo Nacional Torre do Tombo. Manteve-se inédita até a publicação sob curadoria e introdução de Maria Antônia Gaspar Teixeira. Porto: Afrontamento, ILCML: 2018
Anônimo, Werther. História alemã escrita pelo doutor Goethe e traduzida em portuguez. Lisboa: Rollandiana, 1821 [São Paulo: Hedra, 2006 (introdução de Oliver Tolle), com o título O sofrimento do jovem Werther].
E. A. Vidal: Werther (excertos). Lisboa: semanário Archivo Pittoresco, 1868.
A. R. Gonçalves Viana, Mágoas de Werther. Paris, Guillard, Aillaud & Cia, 1885.
João Theodoro Monteiro, Werther. Lisboa: Guimarães, s/d [séc. XIX, 2a. ed. 1906].
Maria Henriques Osswald, Werther: sua paixão e sofrimento. Porto: Civilização, 1938.
João Barreira, Werther. Lisboa: Excelsior, 1940.
Teresa Seruya, A paixão do jovem Werther. Ed. João Azevedo, 1989.[1]
Gab. de Traduções P.A.R., Werther. Alfragide: Ediclube. 2002.
Brasil
·
Anônimo. As amorosas paixões do joven [sic] Werther. Rio de Janeiro: Eduardo e
Henrique Laemmert, 1842.[1]
·
Elias
Davidovich: Werther. Seguido do estudo de Sainte Beuve [sic].
Rio de Janeiro: Guanabara, 1932.[2]
·
Galeão
Coutinho, Werther. São Paulo:
Livraria Martins, c.1941.
·
Anônimo, Manon Lescaut / Os sofrimentos de Werther.
Rio de Janeiro: W.M. Jackson, 1955.[3]
·
Anônimo, Werther. Rio de Janeiro: Organização
Simões, 1957.[4]
·
Ary de
Mesquita, Os sofrimentos de Werther. Rio
de Janeiro: Tecnoprint (Edições de Ouro), 1965.
·
Erlon
José Paschoal, Os sofrimentos do jovem
Werther. São Paulo: Clube do Livro, 1988; (versão retrabalhada) Estação
Liberdade, 1999.
·
Marion
Fleischer, Os sofrimentos do jovem
Werther. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
·
Leonardo
César Lack, Os sofrimentos do jovem
Werther (posfácio de Willi Bolle). São Paulo: Nova Alexandria, 1999.
·
Marcelo
Backes, Os sofrimentos do jovem Werther. Porto
Alegre: L&PM, 2001.
·
Claudia
Cavalcanti, Os sofrimentos do jovem
Werther. São Paulo: Martin Claret, 2014.[5]****
·
Claudia
Dornbusch, Os sofrimentos do jovem
Werther. Rio de Janeiro: Antofágica, 2020.
·
Maurício
Mendonça Cardozo, Os sofrimentos do jovem
Werther. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.
·
Daniel
Martineschen: Os sofrimentos do jovem
Werther. Porto Alegre: TAG Experiências Literárias, 2022.
Nesse rápido levantamento, não incluí histórias em quadrinhos nem adaptações infanto-juvenis ou juvenis, pois usualmente baseiam-se em traduções já existentes.
Segundo a listagem acima, temos 9 traduções portuguesas, se incluirmos os excertos publicados no citado hebdomadário. Encontram-se 12 traduções brasileiras: estão excluídas as contrafações da Pongetti, da W.M. Jackson e da Martin Claret, bem como o caso da edição da Simões ainda em suspenso, que demandaria um cotejo com traduções previamente existentes.
[1] Algumas fontes indicam: “Teresa Seruya (com Judite Berkemeier e João Barrento): A paixão do jovem Werther. Lisboa (Bertrand), 2014”. No entanto, essa publicação inclui três obras: Werther (trad. Seruya), O conto da serpente verde (trad. Berkemeier) e Novela (trad. Barrento), numa edição lançada inicialmente em 1991 pelo Círculo de Leitores.
[1] Laurence Hallewell, em seu O livro no Brasil, aventa a título hipotético que a tradução teria
sido feita por Eduardo Laemmert.
[2] Em 1942,
a Pongetti publica essa tradução de Davidovich, porém anonimamente, sem dar os
créditos de tradução, fazendo constar na página de rosto apenas “com um
prefácio de Marques Rebelo”.
[3] A Jackson tinha como
procedimento habitual utilizar traduções portuguesas sem licenciamento e sem os
créditos de tradução, colocando apenas a observação na contrapágina de rosto: “Tradução
adaptada e revista pelo Departamento Editorial da Jackson”. É o que também
consta nesse volume 2 de sua coleção Romances Universais.
[4] A Simões
publicava basicamente autores brasileiros; as poucas edições traduzidas
costumavam ser reproduções de traduções lusitanas. Antes de poder arrolar com
segurança esse volume de Werther como
uma nova tradução brasileira dos anos 50, seria recomendável cotejá-lo com as
traduções lusitanas disponíveis na época.
[5] Antes dessa edição, a Martin Claret publicara em 2000, com várias reedições ao longo dos anos, mais uma contrafação em nome de Pietro Nassetti.
uma emocionante e incrível iniciativa da dirce waltrick do amarante, marlova assef e myllena lacerda: a revista qorpus, da pglit/ufsc, lançou um número especial dedicado a mim (a mim!!) septuagenando.
disponível aqui.
geir campos comenta em sua matéria, aqui, que vera mourão foi bagrinho de "um renomado tradutor do rio janeiro". fiquei curiosa em saber quem seria...
Voltemos à chamada “vaca fria”, isto é, ao assunto de que tratávamos na semana passada: a tradução.
Ia eu dizendo então que o “bom” tradutor há de dominar um pouquinho melhor a língua para a qual traduz (também denominada, tecnicamente, língua de chegada ou língua meta ou língua alvo; em francês langue d’arrivée; em alemão Ziel Sprache; em inglês target language; em espanhol lengua de llegada), e ligeiramente menos bem a língua da qual traduz (também denominada, em termos técnicos, língua partida ou língua fonte; em francês langue de départ; em alemão Ausgang Sprache; em inglês source language; em espanhol lengua de origen). Explica-se: a língua materna aprende-se ao mesmo tempo que se aprende a falar, a andar, a viver; e é uma forma de aprender muito cheia de conotações e ensinamentos paralelos, por assim dizer; já a língua da qual se traduz costuma ser uma língua que se aprendeu mais pelo intelecto que pela emoção – e isto faz uma enorme diferença. Um bom amigo meu costumava dizer que língua materna é aquela em que a pessoa reza e xinga e faz contas. Para rezar e xingar e fazer contas é preciso que se tenha um aprendizado bem antigo, bem inicial, bem fundamental. É na língua materna que o tradutor há de encontrar elementos denotativos e conotativos capazes de expressarem da melhor forma possível as ideias que ele tenha sido capaz de captar em outra língua – esta, sim, talvez aprendida intelectualmente, por um ato de vontade, que é como em geral se aprendem línguas estrangeiras, a não ser que a pessoa viva em permanente contato com uma língua estrangeira, como acontece. Digamos. em zonas de fronteira...
Mas, bom conhecedor, bom “domador” ou dominador, por assim dizer, da própria língua, e razoável conhecedor de uma língua estrangeira, estará o indivíduo quase pronto a ser um “bom” tradutor. Mas é claro que a um bom tradutor são necessárias certas disposições, por assim dizer, especiais. Um bom tradutor está sempre a postos: é só ele bater os olhos em um texto e já lhe dará uma vontade interior quase irresistível de traduzi-lo, de pô-lo ao alcance de pessoas que talvez não conheçam, ou pelo menos não conheçam tão bem, a língua estrangeira em que o tal texto está escrito... O tradutor é, assim, uma espécie de “missionário”; a “missão” do tradutor é esta: tornar acessível, a pessoas que não falam determinada língua estrangeira, o que o autor estrangeiro diz ou está querendo dizer com as palavras dele.
Mas é claro que, paralelamente a esse aspecto “missionário” do tradutor há de existir sempre – e feio e forte como se diz – o aspecto material. Mesmo porque trabalho é trabalho, seja braçal, seja intelectual, e ninguém está aí para trabalhar de graça, ora essa. A profissão de tradutor envolve um esforço e um trabalho como qualquer outra profissão e há de ser remunerada como qualquer outra. Para coibir certos abusos praticados contra eventuais tradutores por usuários de traduções mais ou menos bem intencionados (de “boas intenções”, etc.), existe e funciona no Rio de Janeiro (o telefone é 252.1616, DDD 021) a ABRATES, Associação Brasileira de Tradutores, com endereço no catálogo telefônico e tudo.
Um dos “problemas” trazidos com mais frequência ao conhecimento da ABRATES é o dos “tradutores fantasmas”: tradutores que, como os “escritores fantasmas” (em inglês ghost writers), não assinam seus trabalhos e são apenas parcialmente pagos pelo que fazem. Explicação: um tradutor de “renome”, por esta ou aquela razão, “aceita” encomendas de tradução em volume superior ao que talvez pudesse cumprir dentro dos prazos estabelecidos (toda tradução tem um prazo, e é bom cumprir sempre esses prazos dados); premido pelo tempo, etc., esse tradutor “de renome” passa adiante, ou “subloca”, seu trabalho a alguém de sua confiança que acaba “fazendo o trabalho para ele”, e ao qual ele afinal paga apenas uma parte do que lhe é pago pelo editor. Isso explica a diferença de qualidade entre várias traduções assinadas por um mesmo tradutor, pois diferenças hão de existir entre as várias pessoas por ele “contratadas” ou “subcontratadas” – e não é sempre que o dito tradutor de “renome” tem tempo ou disposição para efetuar uma boa revisão do texto traduzido que vai levar sua assinatura... E “isso” pode acontecer? – perguntarão alguns. Pois “pode” acontecer e efetivamente acontece. Quando conheci a excelente tradutora Vera Mourão, por exemplo, ela trabalhava como “tradutora fantasma” para um renomado tradutor do Rio de Janeiro; não foi sem algum esforço que consegui tirá-la dessa condição e apresentá-la como “tradutora” a alguns editores cariocas, para os quais ela passou a traduzir e assinar – e, naturalmente, receber... Mas talvez seja até um caminho razoável, esse, de alguém entrar no território da tradução como “tradutor fantasma”, levado pela mão exploradora de algum tradutor renomado; talvez seja até um caminho, eu ia dizendo, mas não creio que seja o melhor. O melhor caminho, creio eu, é o do tradutor que procura os editores e presta-se a fazer os testes necessários e fica esperando que chegue sua vez. Se isso “demora”? Às vezes: depende muito da qualidade da tradução feita pelo candidato. Um bom candidato é imediatamente chamado, um candidato de pior qualidade há de ficar mofando na espera. E vale aqui chamar a atenção para a qualidade do trabalho do tradutor, uma qualidade que há de ser sempre uma distinção.
Publicado originalmente no jornal A ORDEM, ano LXII, São José do Calçado, domingo, 5 de fevereiro de 1989, nº 2493.
transmitidos no youtube, disponíveis aqui.
reproduzo abaixo uma entrevista que dei à querida luci collin alguns anos atrás (em 2019). havia um roteiro com as questões, e então respondi em texto corrido, dividido em quatro seções.
Entrevista Denise Bottmann
Quais foram as suas primeiras leituras?
Autores/Autoras que mais marcaram a sua vida acadêmica e que de alguma forma mais influenciaram a sua formação.
Como e quando você iniciou a sua trajetória de tradutora?
Você é uma tradutora multifacetada: Qual o seu gênero preferido?
Você acredita ser a tradução uma forma de autoria?
Segue algum método/modelo para traduzir?
Você escolheu os autores(as) que traduziu?
Com qual autor/autora você mais se identifica?
Você dialoga com os autores dos livros quando traduz
Ao traduzir, você conscientemente segue algum tipo de teoria?
Como é a sua relação com as editoras?
O que você tem na sua gaveta? Quais são seus projetos…
Ainda quer traduzir? O que ainda precisa ser traduzido.
O Brasil traduz muito, como você vê explicaria essa relação?
Você é a idealizador e responsável pelo movimento “não gosto de plágio”. Poderia falar como isso se originou, como foi o desenvolvimento e como está a situação atual?
I
É curioso fazer um apanhado retrospectivo assim. A gente nunca sabe bem o que está vivendo enquanto está vivendo aquilo, não é mesmo? Depois as coisas se amontoam e, olhando para trás, mesmo que num recorte bastante relativo, as coisas parecem adquirir uma consistência, uma possibilidade de caracterização que não tinham na época.
Nasci mais de sessenta anos atrás, em 1954. Então, naquela época, nem
televisão tinha na maioria das casas. Era jornal, revista, rádio, vitrola,
livro. Acho que meus pais compraram uma televisão só em 1960 ou 1961, e eu
assistia só uma hora por dia, e era aquele programa infantil com a Cidinha
Campos, às quatro da tarde.
Com sete anos, peguei sarampo e fiquei uma semana de cama. Meu pai, que era
um doce de pessoa, já no segundo dia passou na Biblioteca Monteiro Lobato, lá
na Vila Buarque, em São Paulo, e tirou um livro para mim. Era As reinações de Narizinho. Eu já sabia
ler, claro, estava no segundo ano primário, mas era o primeiro livro-livro,
parecia até um catatau, com aquela capa dura e folha grossa, que deixava ele
bem volumoso. Nossa, tracei o livro; no outro-outro dia meu pai devolveu na
biblioteca e trouxe outro, também do Monteiro Lobato – não lembro bem qual, mas
tinha o Visconde de Sabugosa na capa. No sexto dia, veio mais um livro, e esse
nem sei qual foi. Mas a partir daí virei ledora compulsiva.
Por sorte, em casa, mesmo a gente não tendo muitos recursos, havia uma
bibliotecazinha bem razoável. E existiam na época umas coleções infanto-juvenis
bem legais, Trópico Ilustrado, Tesouro da Juventude, mesmo a Biblioteca Larousse, que dava para ler e
reler. No final de semana, com a mesadinha que eu ganhava, ia na banca de
jornal e comprava revistinha. Além disso, mesmo já com televisão em casa, à
noite a gente não assistia, mas ficava conversando, jogando algum jogo de
baralho ou palitinho e fazendo palavra cruzada! Eu adorava fazer com meu pai
porque ele fingia que não sabia alguma palavra e me dizia para ir procurar no
dicionário. Então dicionário sempre foi uma coisa muito amiga para mim, desde
menina.
Bom, depois dessa fase inicial, o mais marcante foi mais ou menos a partir
do terceiro ginasial, com uns doze anos de idade: o colégio onde eu estudava, o
Rio Branco, tinha uma biblioteca que foi meu encanto por muito tempo. A gente
tinha de pedir o livro no balcão, para a bibliotecária, que ia pegar na
estante. Sei que, depois de um tempo, ela me deixava entrar sozinha e percorrer
as prateleiras, para escolher o que quisesse.
Em suma, lia muito, basicamente literatura, desde Mika Waltari, Vicki Baum,
Somerset Maugham, Jorge Amado, José Mauro de Vasconcelos a Kafka, Maupassant
(que era da minha mãe e ela me proibia ler, pois dizia que eu era muito menina
para aquilo, mas eu lia escondido mesmo assim), Tchekhov num volume lindo de
contos que minha tia-avó me deu no meu aniversário de doze anos, até um Thomas
Mann lá de casa que não dei conta de acabar, Os Buddenbrook. Mas não só; adorava mitologia, história geral e
ganhei dois volumes maravilhosos sobre mitologia, um do Thomas Bulfinch, bem
famoso, o outro não lembro. Li umas oitocentas vezes cada um deles.
Claro que, a essas alturas, meu português era bem razoavelzinho, sentia-me
à vontade na língua, com facilidade de escrever. Mas não que desse muito para
exercer meus pendores literários nas aulas propriamente ditas, porque era tudo
na base da decoreba: história, geografia, matemática, ciências, inglês, francês
e mesmo português. Nas aulas de português, a parte de leitura era, com uma
tediosa previsibilidade, Machado de Assis (o de Helena e Iaiá Garcia, e
não Brás Cubas ou Memorial de Aires, que hoje em dia é meu
favoritaço do Machado), José de Alencar, Manuel Antônio de Almeida, Castro
Alves, Olavo Bilac... Redação, só uma vez por semana.
Em paralelo, uma coisa que estava sempre presente em casa eram as línguas
estrangeiras: minha mãe dava aulas de inglês para alguns alunos particulares,
meu pai sabia alemão e às vezes ficava praticando a escrita gótica clássica,
minha irmã tinha o Yazigi completo e fazia francês na Aliança e depois fez o
Nancy. E veja como é bizarra essa coisa de família: todos tão envolvidos em
línguas e eu fugia das aulas de inglês na escola pedindo dispensa, alegando que
já sabia muito inglês por causa da minha mãe (o que, claro, não era nem
remotamente verdade); a única coisa que eu sabia em alemão era contar até dez;
passei anos implicando com francês, cabulando todas as aulas que conseguisse,
até ficando de segunda época...
Tudo isso na época do ginásio. Ai escolhi o clássico e, por alguma razão
súbita e misteriosa, apaixonei-me pelo francês. O professor, que era o mesmo do
ginasial, nem acreditou e dava risada. Virei ótima aluna de francês. E lá ia de
Racine, Chateaubriand, Hugo, Verlaine, e a gente tinha de decorar os poemas em
casa para recitar na chamada. Quase cinquenta anos depois, ainda me lembro da
diversão que era enrolar a língua nos “l” para recitar les sanglots longs des violons de l’automne. E Baudelaire, claro, o
grande preferido do nosso professor: era uma enxurrada de Baudelaires, e na
esteira Rimbaud, com uns Villiers d’Isle-Adam de lambugem no meio.
No clássico tinha latim também. Esta é uma das grandes decepções da minha
vida. Foi o professor mais deprimente que já conheci, triste, cansado,
desanimado, sempre com o ar mais infeliz da face da terra. Três anos que não
serviram para quase nada. Melhor nem lembrar. Uma lástima. Em três anos, se
chegamos no ablativo absoluto, foi muito.
Mas, na verdade, na escola sempre fui da chamada “turma do fundão”. Ria,
conversava, colava nas provas daquelas matérias mais infernalmente tediosas,
cabulava aula indiscriminadamente, até chegar no limite máximo de faltas, e ia
jogar pingue-pongue no grêmio, que ficava no térreo. Paixão por alguma matéria
só tive duas: geografia com um professor que era incrível e foi o único ser no
ginásio que me levou a pedir para uma colega que sentava bem na frente para
trocar de carteira comigo durante as aulas dele. Pena que foi só um ano. E
francês, já no clássico.
Quanto ao inglês, fui fazer fora. Muitas coleguinhas faziam a Cultura
Inglesa, que ficava perto, ali em Higienópolis. Meus pais me resolveram pôr na
UCBEU (União Cultural Brasil-Estados Unidos), que era longe, numa paralela da
Paulista, tinha de tomar ônibus, mas minha mãe adorava o inglês americano: ela
tinha feito o Bennett no Rio de Janeiro, e acho que foi por isso que resolveu
me botar na União Cultural. Não foi nenhuma grande paixão, mas fiz lá até o
começo do intermediário.
O grande marco nessa rotina escolar foi o cursinho. No último ano do
clássico, fui fazer o semi no Equipe, que na época ainda era só cursinho.
Nossa, que revelação. Foi todo um novo mundo se abrindo para mim.
Mas antes deixa eu contar um detalhe. Outro dia, uns seis meses atrás, pelo
mais fortuito dos acasos, encontrei um caderno meu do primeiro clássico, do
curso de inglês. Imagina só. Bom, folheando, sabe o que tinha lá? O caderno era
dividido com folhas dobradas separando os temas das aulas: gramática,
exercícios, versão e tradução. E lá encontrei três traduções de três contos que
o professor tinha dado como lição de casa para a gente fazer. Não lembro onde
pus de volta o caderno; senão, eu pegava e ia ver de novo os nomes dos contos;
só sei que um deles era, veja só, A mão
do macaco, do William Jacobs – em suma, eram legais, e a tradução, que reli
nesses meses atrás, parecia bem normalzinha, corretinha. Quer dizer, naquela
época a gente praticava tradução pelo menos desde os catorze anos de idade.
Fazia parte do curso, fazia parte das lições de casa. Tipo, coisa normal, quase
trivial.
Mas voltando ao
Equipe. Foi lá que tive meu primeiro emprego na vida, embora informal, foi
no Equipe, em São Paulo, onde eu estava fazendo cursinho, um semi, para prestar
vestibular. Isso foi em 1971: eu tinha 16 anos, escrevia bem, e o Gilson,
professor de redação do cursinho, me convidou a me juntar com seus assistentes
que liam, corrigiam e atribuíam conceito às redações da moçada. Foi lá que
então comecei a trabalhar com o Carlinhos e o Zé Antônio - José Antônio
Arantes, que veio a se tornar sensível e exímio tradutor.
O Zé trabalhava de
revisor na Edgard Blücher e resolveu sair de lá. Então me deu o toque de que ia
abrir a vaga, e lá fui eu bater à porta da editora. Me apresentei, fiz teste,
passei e fui contratada a título de experiência. A Blücher é uma editora
técnica, e eu tinha feito clássico: nada de matemática, física, química ou
biologia, a não ser o que se aprendia no ginasial. Imagine! Mas era para
revisão da segunda prova e aí o importante eram o português, a atenção e a
capacidade de concentração.
Fiquei encantada em
aprender coisas do ofício - basicamente as marcações, que não conhecia - e
decorar palavras às quais eu devia prestar a maior atenção, que era onde mais
passavam as gralhas: nunca me esqueci da biorrefringência (naquela época já era
com dois erres e tudo junto, e a atenção que a gente tinha de prestar era no
"n", pois parece que os gráficos viviam imprimindo
"biorrefrigência"). Se eu pegasse alguma biorrefrigência e pedisse um
"n", meu período de experiência estaria no papo, me diziam os
colegas.
Fiquei uns dois meses
na Edgard Blücher e então saí, por nenhuma razão em especial, talvez por ter em
mim uma espécie de bicho-carpinteiro que não me deixava parar por muito tempo
em lugar nenhum (mas só depois vim a constatar essa minha tendência) ou por não
me sentir especialmente motivada em revisar livros cujo conteúdo
transcendia meu entendimento e que eu não tinha a menor esperança de algum dia
vir a apreciar, como merecem ser apreciados todos os livros que a gente lê.
Depois fiquei sabendo
que a Abril, que na época era o máximo, ia fazer um teste de revisão. Fiz,
passei e entrei como trainee. Lá foi sensacional como experiência,
embora eu tenha cumprido apenas meus trinta dias e depois puxado o carro. Mas fundamental mesmo foi a Editora Perspectiva, onde fui trabalhar um
pouco depois. Foi maravilhoso. Pois contato com o mundo editorial faz muita
diferença, toda a diferença, na verdade: você começa a entender o que é um
livro.
Nesse meio tempo, entrei na faculdade, na USP, em ciências sociais. Mas era
uma coisa deprimente. Isso foi em 1972, maior perseguição política, vários
professores exilados, falta de cursos, banheiros pichados de cima a baixo com
palavras de ordem e de resistência, coisa e tal. Pedi transferência para o
curso de filosofia. Muito chatinho; um professor jovem, pernóstico, entochando As palavras e as coisas do Foucault
naquela turminha de 17-18 anos. Sem chance, larguei. No ano seguinte tentei de
novo; havia um curso novo, que estavam criando naquele ano, de semiótica. Mas
nem cheguei a frequentar.
Larguei mão da faculdade, virei macrobiótica, fui morar em comunidade,
essas coisas, e aí acho que foi que fiz minhas primeiras traduções do inglês
que vieram a ser impressas, voluntárias, claro: um manual de shiatsu e breves
artigos para a revista Satori, que o
prof. Tomio Kikuchi, o grande sensei da
tchurma, mantinha.
Ou seja, por alguns anos, foi um tal de entrar e sair de faculdade, de
pegar mochila e viajar; então fiquei em Curitiba um tempo. Aos 20 anos casei, fomos
morar na África (Guiné-Bissau, ambos muito idealistas), tivemos nossa filha, voltamos
uns anos depois para o Brasil, retomei a faculdade, separei. É dessa época que
dato meu interesse mais constante em tradução. Traduzia poetas que amava
(Eliot, por exemplo), e na época andava lendo freneticamente o Debord, Guy
Debord, e textos da Internacional Situacionista. Aí, um dia – eu assinava um
jornal baiano chamado O inimigo do rei
– resolvi enviar um textinho do Debord para eles, que traduzi do espanhol. Pois
veja: era bem mais pobrezinho o setor editorial naquela época, sob tantos anos
de ditadura militar; coisas mais tchans nem se publicavam muito, então muita
coisa nova, importante, a gente só encontrava em edições importadas. Havia
muitos livros em espanhol, importados sobretudo da Argentina, mas também do
México, que eram mais em conta e em maior variedade do que outros importados,
disponíveis, por exemplo, na Livraria Francesa. Enviei o texto para o Inimigo; publicaram, e traduzi mais
alguns. Aí alguém de lá me escreveu avisando que tinham criado uma dissidência
e estavam com uma revista, a Barbárie.
Para a Barbárie colaborei com mais
algumas traduções voluntárias, sempre de textos situacionistas.
Então acho simpático esse começo quando começaram a publicar essas minhas
traduções: entre macrobióticos e anarquistas, veja só!
Depois fui fazer pós, em Campinas, em 1982, e lá traduzi bastante para uma
revista que resolvemos criar, a RH –
Revista de História; traduzi Lefort, Hayden White e outros, sempre na maior
“pirataria”. Não pensávamos em termos de pirataria, nem passava pela cabeça. Se
era um texto legal, importante para a área (História, no caso), a gente
traduzia e publicava, e pronto. Um dia, me liga uma amiga de São Paulo, a
jornalista e tradutora Fátima Murad, que me disse: “Olha, a Brasiliense me
ofereceu um livro, mas estou com muito trabalho e não vai dar para pegar. Posso
te indicar? Você tem interesse?”. Falei que sim. Bom, então fui até São Paulo,
até a Brasiliense, peguei um teste, fiz, passei e fiquei incumbida da tradução:
era o livrinho do Perry Anderson, que saiu em 1984 com o título de A crise da crise do marxismo. Aí a coisa
na Brasiliense engatou: a seguir veio o Wallerstein, depois mais uma meia-dúzia
de outros. Havia grande carência de textos historiográficos que eram muito
apreciados lá pelo pessoal do departamento, e Edgar De Decca e Michael Hall me
apresentaram ao Marcus Gasparian, da Paz e Terra, que estava com a
importantíssima obra do Thompson parada lá, precisando de alguém da área para
traduzir: The Making of the English
Working Class. E também nessa época o Luiz Schwarcz estava saindo da
Brasiliense para criar a Companhia das Letras e me chamou para ir para lá; isso
em 1985. Também fiz algumas coisas nesses anos para a EdUSP e para a editora da
Unicamp, bem legais, do inglês, do francês e do espanhol – em suma, sempre
textos basicamente acadêmicos, para o público universitário. O leque se ampliou
um pouco na Companhia das Letras, passando a traduzir também de outras áreas
das humanidades.
Mas depois, lá por 1995, parei de traduzir. Tinha me mudado com meu
companheiro, o Federico Carotti, para Registro, no Vale do Ribeira, e mesmo da
Unicamp pedi a conta em 1996 (a essas alturas, desde 1983 eu dava aulas lá, no
Depto. de Filosofia, na área de Teoria da História e Epistemologia das Ciências
Humanas). Ai, depois de 1995, passei dez anos sem traduzir nada.
II
Somente em 2005 voltei a pôr a mão na massa, e meu retorno à tradução foi
pela Cosac Naify, com o Franco Moretti, e lá comecei também a fazer coisas maravilhosas
de história da arte, como Roberto Longhi e Matisse. De lá para cá, a tradução
se tornou minha atividade profissional exclusiva, com esse foco mais variado,
abrangendo a área de humanidades em acepção ampla, e não só história ou
historiografia, nem coisas exclusivamente acadêmicas. Foi na Cosac, aliás, que
fiz minha primeira tradução literária, se bem me lembro: O amante, de Marguerite Duras.* Eu conhecia razoavelmente bem a obra dela e, mesmo meio temerosa, aceitei
a proposta.
Assim, se virei “tradutora multifacetada”, como você diz, foi algo meio
gradual, que sentia que dava para ir incorporando conforme sentia maior
segurança no ofício. E a gente, quando é tradutora profissional e mais ou menos
especializada em determinadas áreas, pega um leque de autores de qualidade
bastante variada. Em geral, não somos nós que indicamos ou escolhemos os livros
nas editoras: quer dizer, você recusa se está entupida de trabalho ou se não
domina aquele assunto ou se é algo meio brutal que dá nó nas tripas ou sobre
algo com que você não tem a menor afinidade. Então a gente acaba não tendo um
gênero preferido – o preferido, nessa ampla variedade, é o que mostra
qualidade, seja o autor um teórico da pintura, um historiador, um romancista,
um crítico literário ou um biógrafo. E qualidade, para mim, tem a ver com uma
mescla sábia, discreta, sutil entre simplicidade e complexidade. Textos
triviais costumam ser chatésimos de traduzir, sejam eles de literatura ou de,
sei lá, epistemologia. São chatésimos porque dão sono, entediam, despertam
vivas réplicas e objeções mentais frenéticas.... Pois claro que a gente, ao
traduzir, está é tentando entender e acompanhar o raciocínio do autor ou, em
literatura, o método compositivo dele. Os interessantes são aqueles cuja
temática, evidentemente, não pode ser totalmente desconhecida para a gente. Um
mínimo de desenvoltura na área a gente precisa ter. Mas, voltando, os
interessantes são aqueles em que a gente aprende coisas novas, vê uma nova
perspectiva dada àquele tema, entra em contato com uma nova interpretação do
assunto, e que colocam algum tipo de – detesto o termo, mas vá lá – “desafio”
intelectual. Então, naturalmente, claro que você fica dialogando com o autor;
se não entende direito o raciocínio, obriga-se a voltar quantas vezes forem para
entender melhor o argumento. Não é só entender o que está escrito, as palavras
ali impressas; é entender o sentido daquilo e dentro daquele recorte ou daquela
proposta do autor. E nunca, nunca, jamé dã lavi, você vai achar que é você quem
sabe. A gente está ouvindo, por assim dizer, e tentando acompanhar de fato o
desenvolvimento da coisa. A gente não é autor; a gente é, digamos, um tipo
especial, muito atento, de leitor. Ou como quando você vai ao teatro: você
assiste à peça, pode gostar, pode não gostar, pode entender, não entender,
entender mais ou menos e pode recontar tudo aquilo com suas palavras, mas não
foi você que fez aquilo. Traduzir, para mim, é meio isso. E “direito autoral”,
claro que você tem, até por força de lei, mas esse direito autoral é sobre o
texto traduzido, sobre aquela coisa que você passou pela sua cabeça e pôs em
português, não sobre os dados, a trama, a estrutura argumentativa etc. – tal
seria! Somos “autores de obra derivada”, este é o termo jurídico da coisa. Por
isso também acho meio bocó falar em “recriação”, “transcriação” etc. O que a
gente mais tem numa tradução são limites, e bastante férreos. Tradução às vezes é meio parecida com sudoku.
Criar, recriar, transcriar? Desculpe, acho isso mais palavrório bonito do que qualquer outra coisa, uma espécie de fazer da necessidade virtude e criar umas lantejoulas em torno, ou uma maneira de expressar um (justo) orgulho pelo trabalho feito. Mas, por falar nisso, tirando o tom às vezes meio farfelu, meio empetecado e precioso, gosto bastante, muito até, de algumas, muitas até, considerações do Haroldo de Campos. De todo modo, criação é criação, tradução é tradução. Não considero tradução, nem a mais sublime de todas, “arte”; tradutor não é artista, é artesão.
No fundo, em tradução você pode fazer qualquer coisa e justificar como bem
quiser, ou mesmo achar que não há nada a justificar – “Onde já se viu,
justificar! É minha liberdade!”. Mas nem sempre a gente acha umas coisas muito
convincentes. Claro que posso
traduzir The book is on the table
por, sei lá, Alberto escorregou e caiu no
rio ou O cometa Hailey é visível a
olho nu – nada me impede. Mas não sei se, traduzindo assim, vou conseguir,
em primeiro lugar, pagar as contas no final do mês. A menos, claro, e é sempre
uma hipótese possível, que eu desenvolva uma belíssima e abstrusa teoria
explicando ao comum dos mortais o misterioso processo de reencarnação do verbo
e fique famosa dando palestras remuneradas. Quer dizer, nesse sentido, traduzir
é uma coisa que chega a ser caótica de tanta liberdade que você tem. Por outro
lado, a gente é a gente, né? E cada um tem um jeito de pensar e de entender as
coisas. Então creio que a grande, a grandíssima maioria traduziria The book is on the table por O livro está na, sobre a, em cima da mesa.
Porque existe essa coisa danada que insistem em impingir na gente desde
pequenininha, ou com a qual nossa mente vem até ingenitamente estruturada, que
é a tal da estrutura da linguagem, sem contar essa coisa incrível, fenomenal, que
chamam de “sentido”. Mas enganam-se os teóricos, mesmo os que acho menos
escalafobéticos, quais sejam, os de alguma corrente funcionalista de tipo
descritivista, que – vi uns meses atrás um artigo muito bom, pena que não
lembro o nome – tratam a questão pegando por esse lado da nossa formação, desse
nosso intelecto que tem uma certa padronização desenvolvida ao longo dos anos,
com um trabalho lógico quase que automatizado, que funciona quase que
intuitivamente, isto é, não de maneira analiticamente decupada, para o ato de
entendimento e transposição de uma língua para outra – nesse artigo, o autor
comentava que esse processamento mental era o que fornecia os resultados
preliminares durante uma tradução, que a seguir são reformulados a uma segunda,
terceira leituras. Hmmm, não sei se é bem assim. Seria longo discorrer sobre o
que penso a respeito, mas posso lhe dizer que, mesmo que a gente tenha essa
espécie de automatismo mental – e temos, sim –, o tradutor mais experiente, ou
talvez mesmo não muito experiente, mas atento e sensível, não se deixa tanto
arrastar por ele. Aliás, que graça teria? O que vejo é uma longa série de
fatores que entram em consideração antes de você traduzir até mesmo um The book is on the table por O livro está na, sobre a, em cima da mesa.
A gente não é tão ingênua assim. Pode se sentir autorizada a esse tipo de
tradução dependendo do andar da carruagem, digo, do andamento do texto
original. Mas o processo de crivo, de seleção, de escolha específica dentro daquele
texto determinado – mesmo que se dê de maneira muito rápida, quase instantânea
– ocorre antes mesmo de termos tempo de escrever ou digitar uma letra que seja.
Aí, claro, a elaboração é contínua, constante, ininterrupta. É fascinante se
você parar e pensar na máquina velocíssima que é nosso cérebro. E aí entram
sucessivos e infindáveis fatores adicionais, à medida que o texto avança, e
claro que com efeitos de retroalimentação para o que já foi formulado
previamente, que poderia estar determinando o andamento adotado até aquele
momento, mas aí, com o surgimento desses outros fatores, esse andamento não só
se altera retrospectivamente, mas o “padrão” que se estabelecera nessa fase
anterior se modifica para o andamento subsequente. É um trabalho mental, só
isso. E no qual é melhor você saber do que não saber o que está fazendo: é o
que chamo de “tradução refletida” – e refletida não só a posteriori, durante releituras e revisões, mas antes (mesmo que
numa fração infinitesimal de segundos a cada micro-ocorrência) e durante o
próprio ato de traduzir.
E é um gosto – esse trabalho mental não só é
muito interessante como fenômeno fisiológico, mas como atividade cerebral bem
peculiar. Acho que os neurônios gostam, não enjoam da brincadeira. Aliás, uma coisa que acho muito linda no Manuel Bandeira – prolífico tradutor, e
com algumas traduções realmente magníficas – é que traduziu até morrer. Então,
penso meio assim: quem tem isso no sangue, quem gosta de traduzir, das charadas
mentais que tem de resolver, faz isso a vida toda – com intervalos maiores ou
menores, mas faz. E, podendo, quer dizer, não tendo problemas de saúde que
prejudiquem a atividade, faz mesmo até o fim.
III
Então imagine só: desde pequena lendo bastante, desde menina aprendendo
tradução na escola, já grande traduzindo, depois virando profissional do
ofício, depois ainda sentindo grande interesse pela história da tradução no
Brasil, de repente você chega e vê um saque descomunal, na maior desfaçatez,
com puros intuitos mercantilistas, a um tesouro bibliográfico? Vá lá que nem é
um grande tesouro, pois o desenvolvimento de um setor editorial no Brasil,
minimamente consolidado e consistente, começou não faz nem cem anos...
Mas imagine só: a pessoa lá suando as estopinhas, esforçando-se, o livro
saindo, sendo lido, incorporado à bibliografia traduzida brasileira, vem um
desqualificado qualquer e mete a mão? Não tem como: obras de tradução feitas
por, sei lá, centenas de pessoas, desde Carlos Porto Carreiro, Jamil Almansur
Haddad, Boris Schnaiderman, Brenno Silveira, Araújo Ribeiro, Jacó Guinsburg,
Erwin Theodor Rosenthal, Lúcia Miguel-Pereira, Lígia Junqueira Smith, Lúcio
Cardoso, Lívio Xavier, Wilson Velloso, Primavera das Neves (Vera Pedroso), o
próprio Manuel Bandeira que mencionei há pouco – até o Odorico Mendes, que a
certa altura virou “Alex Marins”! Tudo, tudo surripiado e saindo em nome de
terceiros, reais ou fictícios, só para a editora pular uma etapa, delicada e
morosa, do processo de edição de um livro e economizar uns tostões. Não tem
como ficar quieto, deixar passar batido. Por isso nasceu o Não Gosto de Plágio, o blog que criei na esteira da ativa
movimentação de um grupo de tradutores revoltados com tais descobertas
(iniciadas, diga-se de passagem, por Ivo Barroso, Alfredo Monte e Saulo von
Randow Jr.). No Não Gosto, a intenção
era – e continua a ser – defender nosso patrimônio cultural apresentando
cotejos comprobatórios e denúncias dessas falcatruas com divulgação na
imprensa, em cartas a departamentos de universidades desse Brasilzão afora, em
contatos com editoras, livrarias, tradutores lesados, nos raros casos que ainda
eram/são vivos, ou com seus sucessores, além de ingressar com pedidos de
representação junto aos Ministérios Públicos Estaduais de São Paulo e do Rio de
Janeiro e mesmo junto ao Ministério Público Federal. Um fuzuê.
Pois uma questão fundamental é que nosso patrimônio cultural, na parte da
letra impressa, passa necessariamente, eu diria até fundamentalmente, por obras
de tradução. Devido à posição historicamente dependente, periférica do Brasil
e, antes disso e em nível mais fundamental, à própria posição bastante
secundária de Portugal e da língua portuguesa na produção do conhecimento
ocidental em termos gerais, seja nas ciências, na filosofia ou na literatura, a
possibilidade de acesso social aos mais variados ramos de conhecimento, para
além do poliglotismo, dependia – muito mais do que em outros países, como a
Inglaterra, a França ou a Alemanha, entre outros – da atividade de tradução, da
transposição daqueles conteúdos para o idioma nacional, no caso o português
lusitano. E no Brasil, ainda mais, evidente. Então não é que fosse uma
meia-dúzia de Sabrinas de banca de jornal.
Estamos falando de obras indispensáveis para a formação básica de um mínimo de
bagagem humanista: Aristóteles,
Platão, Santo Agostinho, Maquiavel, Locke, Hobbes, Pascal, Descartes, Kant,
Darwin, Weber, Von Ihering, sem falar de teatro e literatura, com Sófocles,
Shakespeare e tudo o que se possa imaginar entre os canônicos e mesmo não
canônicos. Calculo uns vinte milhões de exemplares com traduções espúrias em
lares e em bibliotecas públicas, de escolas e universidades. E se você pensar
que livro não é propriamente uma laranja, quer dizer, não é perecível, calcule
quantas e quantas décadas muitos e muitos milhares de pessoas passarão lendo,
estudando, citando tais edições (e muitas vezes estropiadas, para tentar
disfarçar a apropriação)... Dá raiva e dá dó.
Felizmente, depois de tanto berreiro e vários
anos de alertas e denúncias, os meliantes andaram metendo um pouco a viola no
saco. Algumas editoras cessaram completamente com a prática, e até retiraram as
obras de circulação. Outras vêm cessando gradualmente, embora mantenham várias
das obras espúrias ainda em circulação. E de vez em quando ainda descubro uma
ou outra sapequice dessas em alguma pequena editora. Em todo caso, a situação
nem se compara à de dez anos atrás, que vinha vicejando alegremente desde um
bom tempo antes. Isso é ruim para o setor editorial como um todo, pois são
poucas, umas dez, quinze empresas que agem/ agiam assim, mas aí a suspeição
respinga de maneira um pouco indiscriminada sobre todo o setor. Então,
naturalmente, as boas editoras, as editoras honestas – que, felizmente, compõem
a grande maioria do universo editorial – também não gostaram nem gostam nada
dessa história toda, dessas outras editoras praticando “concorrência desleal”
(como me disse um editor) e criando um clima de desconfiança entre o público
leitor. Em certo sentido, esse processo de fraudes e denúncias acabou também
contribuindo para uma maior conscientização entre o público leitor quanto à
importância da tradução, inclusive em seu papel formador.
IV
Então é isso. A gente traduz porque gosta, a cabeça funciona legal nessa
atividade, a gente está sempre vendo coisas novas. Como a quantidade de obras
interessantes é absolutamente gigantesca e como, até agora, tenho tido a grande
sorte de trabalhar com editores maravilhosos que não acham meu trabalho muito
horroroso, espero poder seguir o exemplo do Manuel Bandeira (e de tantos
outros!) que comentei acima: traduzir até o final da vida.
*
Minto. Relendo o texto, lembrei que fiz a tradução de Dáfnis e Cloé de Longo, a partir da
famosa tradução francesa de Pierre Grimal, para a Papirus de Campinas, em 1990.
hoje encontrei mais uma tradução feita por primavera das neves (vera neves pedroso; vera pedroso): nunquam, de lawrence durrell, publicada pela expressão e cultura em 1970.
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um breve comentário meu em "quem tem medo de traduzir virginia woolf?",
na seção drops da vitruvius, disponível aqui.
Essa coisa de tradução às vezes cansa: outro dia encontrei alguém reclamando que o título Ao farol (“To the Lighthouse”), da Virginia Woolf, é "muito vago", e melhor seria usar "passeio ao farol".
Suspiro... (na verdade, vários suspiros...)
O farol não é só nem principalmente o farol da ilha que se enxerga da casa do casal Ramsay. É sobretudo a grande, centralíssima, ponderosíssima metáfora do papel da senhora Ramsay como o “farol” da família, que ilumina, orienta e vitaliza as relações entre seus integrantes.
O “to” em To the Lighthouse nada tem de vago: é denso e até pode ser ambíguo – é não só nem principalmente uma ida de bote (um “passeio”) até o farol físico, mas sobretudo uma dedicatória!
Como diz Virginia Woolf, o livro nem seria propriamente um romance: ela diz que gostaria de chamá-lo de elegia, uma homenagem póstuma à sua finada mãe, e é a ela que a autora o dedica.
Como já disseram, “no dictionary can classify the most famous ‘to’ in twentieth-century literature: the title of To the Lighthouse, with its specially laden and layered meanings of orientation and dedication, energy and elegy” (1).
(Por isso também gosto da capa da edição da L&PM, em que o alterego de Virginia Woolf contempla o farol, em vez de apresentar algum barquinho indicando um aplainado passeio ao farol (2). E a contemplação entre nuvens pesadas, águas agitadas, rajadas de vento – quem leu o livro bem sabe quantos conflitos, quantas questões se agitam dentro e em torno da família, e o “farol” ali, sempre firme, forte e fiel, como dizem).
É até por essas e outras que certa vez meio que me exasperei em uma entrevista em que uma das entrevistadoras insistia freneticamente na importância como que fundadora [!] do que ela chamava de “crítica” – e tão freneticamente insistia, até mesmo invocando o mais perfunctório comentário de algum leitor (“aain, não gostei...”), e tanto me exasperei que fui curta e grossa: “bom, aí o problema é dele; meu problema é com a obra, a responsabilidade diante dela”. Ela fez uma cara... mas, no fundo, para mim, é isso mesmo.
nota
1
FOWLER, Rowena. Virginia Woolf: Lexicographer. English Language Notes, v. 39, n. 3, Durham (EUA), mar. 2002, p. 54-70. Disponível em pdf na página web da autora no website da Universidade de Oxford: <https://bit.ly/3mO1UZe>.
2
WOOLF, Virginia. Ao farol. Tradução de Denise Bottmann. Porto Alegre, L&PM, 2013.
no ano passado, tive a grande honra e satisfação de escrever a orelha do belo livro metáforas da tradução, de dirce waltrick do amarante, pela iluminuras.
transcrevo aqui:
Metáforas da tradução
Nunca tive a menor dúvida de que o traduzir é uma atividade infindável, desde o início dos tempos humanos, e de que toda, toda, toda tradução sempre tem um elemento de acaso, uma margem de arbitrariedade que nenhum praticante do ofício deixaria de reconhecer.
Traduzimos, e isso sempre pensando, refletindo,
escolhendo, desistindo, decidindo outra coisa e que, afinal, poderia ainda ser
uma terceira, uma quarta, uma centésima coisa diferente. Isso, cada um de nós,
individualmente, faz, e em cada texto. Imagine-se então a quantidade de obras
ao longo dos milênios, a quantidade de gente traduzindo ao longo dos milênios –
e nunca se chegando, nunca podendo nem pretendendo (e, na consciência desse drama,
muitas vezes nem querendo) se chegar a nada definitivo. Vertiginoso.
É preciso coragem, habilidade, conhecimento para
refletir sobre essas fossas profundas da precariedade e da transitoriedade do
traduzir. E quando falo “conhecimento”, refiro-me a conhecimento de causa,
conhecimento prático, experiência concreta. Pois afinal, como dizem, “falar é
fácil, fazer é que são elas”. E é o que encontramos em Metáforas da tradução,
em doses generosas: coragem, habilidade, conhecimento.
Aqui lembro outra metáfora: o crochê – “eu me sentia... desmanchando o crochê de certos escritores, descobrindo os pontos, os truques prediletos deles”, dizia Rachel de Queiroz. E essa imagem pode se aplicar não só a traduções, como também às reflexões sobre essa prática tão multifacetada. Metáforas da tradução é um elaboradíssimo crochê – tecido, destecido e retecido com maestria. Se em algumas passagens as reflexões de Dirce Waltrick do Amarante até intensificam perigosamente a sensação de vertigem, elas resgatam em grande estilo a delícia da aventura, a alegria do fazer e o mérito intrínseco do ofício de traduzir.
A fazenda dos animais
Creio que uma das áreas a que melhor se aplica o sapientíssimo dito “Ninguém é dono da verdade” é, provavelmente, a tradução. E a infindável variedade de seus frutos é o que faz da tradução algo tão interessante e fascinante.
Assim é que Animal Farm, a fábula escrita por George Orwell nos idos dos anos 40, pode ser lida em Portugal e no Brasil sob diferentes títulos: A quinta dos animais, O porco triunfante, O triunfo dos porcos, A revolução dos bichos e, last but not least, A fazenda dos animais.
De meu ponto de vista, um elemento útil para me nortear no oceano relativista em que nós tradutorxs podemos navegar – e talvez, ou não, nos afogar – é o original. Não ouço mentalmente nenhuma voz clamando para que me afaste de um claro e singelo Animal Farm: A fazenda dos animais, sem maiores problemas nem grandes dúvidas. Aí alguém pode objetar: “fazenda”? Melhor “sítio” ou “granja” ou “herdade”… Tenho lá minhas razões para preferir “fazenda” – mas que seja, não vou ficar brigando por causa disso.
Até aí, é simples. Mas, atendo-nos ao título mais usado no Brasil – A revolução dos bichos –, fico um pouco confusa, em primeiro lugar, com “bichos”. Que bichos, gente? Pois, quanto a isso, a grande questão é que Orwell estabelece muito cuidadosamente, muito meticulosamente, muito sistematicamente, uma divisão do reino animal dentro da obra. E a estabelece adotando uma terminologia muito específica e constante ao longo de toda a sua fábula.
Vejamos, pois. Por animals ele designa única e exclusivamente o que chamamos de animais domésticos, de trabalho, criação e reprodução: vacas, cavalos, cabras, ovelhas, porcos, galinhas, gansos, pombos. Aram as terras, puxam carroças, pisam o trigo, fornecem ovos, servem de reprodutores e assim por diante. Note-se – e isso é bonitinho – que também há entre eles uma gata: ela vive fugindo ao trabalho, mas os outros animais não se zangam com sua mandriice porque, quando aparece depois das jornadas de trabalho, é sempre muito meiga, carinhosa e afetiva. Ou seja, entre os animais domésticos inclui-se também o que chamaríamos de animal de estimação (não de trabalho, criação etc.). Além da gata, há os cachorros, também incluídos entre eles na função de cães de guarda, de pastoreio e mesmo de caça. Esses são os animals orwellianos.
E os outros? Os ratos, os coelhos do mato, os pardais? Orwell nunca, nunca os trata como animals: são wild creatures, não domésticos e sim silvestres. Aliás, é muito interessante que, depois de expulsos os homens e instaurado o novo regime – animal – na fazenda, um dos líderes, o porco Bola de Neve, cria “o Comitê de Reeducação dos Camaradas Silvestres (o objetivo desse comitê era domesticar os ratos e os coelhos)”, para integrar as wild creatures à sociedade animal – que não tenha dado muito certo, são outros quinhentos.
E, por fim, temos beasts: aqui, sim, eu diria “bichos”. Com o termo beasts, Orwell abarca a totalidade dos seres animais, domésticos e silvestres. Daí a importância da canção Beasts of England, que se torna por algum tempo o hino da nova sociedade animal: todos os seres animais, os domésticos e os silvestres, nele se congregam. Aliás, logo no começo, quando o Maioral começava a organizar os animais da fazenda, havia até algumas dúvidas se os bichos do mato, as criaturas silvestres, seriam considerados “camaradas” dos animais domésticos. “Os bichos do mato, como os ratos e os coelhos, são amigos ou inimigos nossos? Vamos pôr em votação. Faço a seguinte pergunta à assembleia: os ratos são camaradas?”. Sim, foram considerados camaradas quase por unanimidade (e vale notar que apenas os cachorros votaram contra: afinal gostavam de perseguir os ratos e acompanhavam os homens na caça às lebres).
Bem, a questão central é que animals, wild creatures e beasts designam coisas diferentes, de abrangência e interrelações bem específicas. Posso em sã consciência tratar indiscriminadamente os termos? Falar em “bichos” para me referir especificamente aos animals? Ou, inversamente, falar em “animais” para me referir especificamente às wild creatures? A meu ver, creio que não. Se Orwell fez assim, tinha lá suas razões para isso – as quais, aliás, ficam muito claras durante a leitura do texto. Assim, não entendo como eu poderia falar em Fazenda dos bichos ou, ainda menos, em Revolução dos bichos. Repisando, não foram as beasts que se rebelaram, foram apenas os animals.
E os animais não fazem uma revolução: os animais se rebelam, se levantam numa rebelião. Não têm qualquer programa revolucionário, a não ser aspirações de tipo cooperativista e autogestionário de longo prazo. Mobilizam-se por insatisfação, rebelam-se contra a opressão: que essa rebelião coletiva depois resulte numa nova situação, cujo comando virá a se concentrar progressivamente num número cada vez mais restrito de animais, são outros quinhentos. Dá-se a rebelião, mas não se implanta concretamente qualquer tipo de coisa que se assemelhe às aspirações que acompanhavam a rebelião: e é esse é o drama da coisa.
A propósito, é o papel fundamental dessa mobilização pessoal contra a opressão que Orwell deixa tão claro em relação a si mesmo, no famoso prefácio à edição ucraniana: “Tornei-me pró-socialista mais por horror à opressão e ao descaso a que estava submetida a parcela mais pobre dos operários industriais do que por qualquer admiração teórica por uma sociedade planejada”. É esse elemento subjetivo, a profunda insatisfação com o status quo, amparado em outro elemento subjetivo, o sonho com um mundo melhor, que leva os animais da Fazenda do Solar a se erguerem contra a situação, e não uma adesão a um projeto revolucionário pré-elaborado. Não à toa, em momento algum encontramos o termo revolution em Animal Farm; é sempre, única e exclusivamente, rebellion. A única vez em que encontramos algo similar a revolution é um derivado: o adjetivo revolutionary, tratado como algo descabido, quando o porco Napoleão se reúne com um grupo de fazendeiros humanos e declara, em discurso indireto citado: “Por muito tempo circularam rumores – divulgados … por algum inimigo malévolo – de que havia algo de subversivo e até de revolucionário na posição dele e dos seus colegas. … Nada podia estar mais distante da verdade!”.
Em suma, em tradução pode-se fazer praticamente qualquer coisa. O que nos dá bússola, guia, norte, é o texto original. Nada, porém, obriga que o tomemos como bússola, guia ou norte. Vai de cada um. De minha parte, prefiro me ancorar no autor. E viva A fazenda dos animais!
disponível aqui
publiquei meu breve artigo com o levantamento da produção publicada de olívia, tanto das obras próprias quanto das obras de tradução. está disponível aqui.
apresentei na postagem anterior, aqui, os artigos, poemas e breves traduções avulsas de olívia krähenbühl publicados em revistas e jornais.
quanto à tradução de livros, sua estreia se dá com o caminho da perdição, de upton sinclair, num trabalho a quatro mãos com aurélio buarque de holanda. aqui cabe notar que muitas fontes - imagino que baseadas numa menção de paulo rónai - dão o ano de 1943 como data de lançamento dessa edição brasileira. trata-se de um equívoco, porém. 1943 é o ano em que wide is the gate saiu nos estados unidos, sendo que o caminho da perdição foi lançado entre nós em 1945, pela edições cruzeiro.
aliás, já em outubro de 1943, estando olívia e aurélio a cargo da tradução de wide is the gate, ambos escrevem uma resenha conjunta sobre a obra (aqui), que se inicia explicando a opção pelo título em português, e em janeiro de 1944 olívia escreve outra resenha, um pouco mais aprofundada, sobre a mesma obra (aqui). em janeiro do ano seguinte temos o lançamento brasileiro, com algumas notas e anúncios na imprensa. a imagem, diga-se de passagem, é impressionante.
começo agora a parte iconográfica, com imagem de capa (ou de página de rosto) das obras traduzidas por olívia, conforme a listagem apresentada aqui. seguem-se as publicações de 1956 a 1963:
(continua)
aqui iniciei a apresentação iconográfica da produção tradutória de olívia krähenbühl. seguem-se agora as imagens de capa dos demais livros traduzidos por ela.
(continua)
olívia krähenbühl: são poucos os dados biográficos de que disponho a seu respeito. sei que nasceu em piracicaba em 5 de janeiro de 1900, filha de bertha maria müller e do suíço-alemão joão [johann] krähenbühl (que chegara ao brasil aos 3 anos de idade, com os pais imigrantes de berna), e faleceu em são paulo em 16 de junho de 1973.
em 1922, olívia partiu como imigrante para os estados unidos, mas lá, casada com wesley duque lee (1897-?), morou apenas por alguns anos. (ao que parece, e por alguma razão que desconheço, nunca adotou publicamente o sobrenome do marido, que não consta nem mesmo em sua certidão de óbito.)
de volta ao brasil, estabelecendo-se em são paulo, olívia montou uma loja de modas e confecções na rua do arouche, no centro da cidade. tenho notícias de que a loja esteve em funcionamento pelo menos entre 1928 e 1931. em 1933, ainda residia em são paulo, tendo feito doação de livros à recente biblioteca pública municipal (a atual mário de andrade). porém, em 1937 já estava morando - não sei a partir de que ano - no rio de janeiro. lá parece ter ficado até o começo dos anos 1960, então retornando para são paulo, onde firmaria residência até o final de vida.
há registros de publicações esporádicas suas em revistas e jornais a partir de 1941: poemas, artigos, uma ou outra breve tradução. passa a se dedicar mais sistematicamente à atividade como tradutora a partir de 1956, quando morava no rio de janeiro, fazendo traduções para a josé olympio. depois, mudando-se para são paulo, passa a traduzir para as editoras cultrix e pioneira, e prossegue no ofício até a época de seu falecimento.
inicialmente arrolo em ordem cronológica a lista de suas publicações em periódicos, sejam elas de textos próprios ou traduzidos:
o conto de maupassant, "amor", foi reproduzido, com nota introdutória de aurélio buarque de holanda, no diário de notícias, seção "letras artes ideias gerais", em 21 de setembro de 1947, aqui.
(continua)
siu meu breve artiguinho, "tradução al pomodoro" na revista de arte e cultura qorpus, vol. 13, n. 1 (ufsc), disponível aqui.
fico feliz em poder informar que saiu meu artigo sobre "a coleção rubáiyát", disponível aqui.
"você sabe quem é denise bottmann?", uma simpática e generosa apresentação de dennys silva-reis na série historiográfica tradutrix, disponível aqui.
"Uma Biblioteca Teatral Brasileira: publicação, circulação e políticas para edições de teatro (1917-1948)", tese de doutorado de henrique brener vertchenko, é um trabalho de pesquisa fabuloso, preciosíssimo. está disponível no academia.edu, aqui.
o artigo traz um meticuloso levantamento das traduções publicadas no brasil e em portugal - reproduzo abaixo apenas as traduções brasileiras arroladas no referido levantamento.
1950 “Da simplicidade e do requinte na maneira de escrever”. In: Ensaístas ingleses. Tradução de José Manuel Sarmento de Beires e Jorge Costa Neves. Apresentação de Lúcia Miguel Pereira. Rio de Janeiro. Clássicos Jackson XVIII. W. M. Jackson editores.
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1980. Investigação sobre o entendimento Humano. Tradução de Leonel Vallandro / Ensaios morais, políticos e literários. Tradução de João Paulo Monteiro e Armando Mora de Oliveira. In: Col. ‘Os Pensadores’, 2ª edição. São Paulo: Abril Cultural.
1983 Escritos sobre economia. Tradução de Sara Albieri; revisão de João Paulo Monteiro; apresentação de Rolf Kuntz. Col. ‘Os Economistas’. 1a edição. São Paulo: Abril Cultural.
1992 Diálogos sobre a religião natural. Tradução de José Oscar de Almeida Marques. Prefácio e bibliografia atualizada, preparados por Michael Wrigley. São Paulo: Editora Martins Fontes, Coleção Clássicos XXVI.
1995 Resumo de um Tratado da natureza humana./An abstract of a treatise of human nature/ Ed. Bilíngue. Tradução de Rachel Gutierrez e Jose Sotero Caio. Porto Alegre: Editora Paraula.
1995 Uma investigação sobre os princípios da moral. Tradução e apresentação de José Oscar de Almeida Marques. Campinas, SP: Editora da Unicamp.
1996 Investigação acerca do entendimento humano. Tradução de Anoar Aiex. / Ensaios morais, políticos e literários. João Paulo Gomes Monteiro e Armando Mora D'Oliveira. In: Col. ‘Os Pensadores’. 6a edição. São Paulo: Nova Cultural.
1997 Carta de um Cavalheiro a seu amigo em Edimburgo. Tradução de Plínio Junqueira Smith. In: Revista Manuscrito, Volume XX, n. 2 outubro de 1997, Campinas/CLE/Unicamp, 15-27.
1999 Investigação sobre o entendimento humano. Tradução de José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: Editora UNESP.
2001 Tratado da natureza humana. Uma tentativa de introduzir o método experimental de raciocínio nos assuntos morais. Tradução de Débora Danowski. 1a ed. São Paulo: Editora da UNESP / Imprensa Oficial do Estado.
2003 Ensaios políticos. Kund Haakonsen (org.). Tradução de Pedro Paulo Pimenta. Série Clássicos Cambridge de filosofia política. São Paulo: Martins Fontes.
2004 Investigações sobre o entendimento humano e sobre os princípios da moral. Tradução de José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: Ed. UNESP.
2004 Do suicídio e outros textos póstumos. Tradução de Jaimir Conte; Davi de Souza e Daniel Swoboda Murialdo. Desterro: Edições Nefelibata.
2004 Ensaios morais, políticos e literários. Miller, Eugene E. (Org.). Tradução de Luciano Trigo. Introdução de Renato Lessa. 1ª edição, Rio de Janeiro: Liberty Fund/Topbooks.
2005 História natural da religião. Tradução, apresentação e notas Jaimir Conte. São Paulo: Ed. UNESP.
2006 Ensaios políticos. Tradução de Saulo Krieger. Série Fundamentos de direito. São Paulo: Editora Ícone.
2006 Investigação sobre o entendimento humano. Tradução de André Campos Mesquita. São Paulo: Escala Educacional.
2006 Da imortalidade da alma e outros textos póstumos. Tradutores de Daniel Swoboda Murialdo, Davi de Souza, Jaimir Conte. Ijuí, RS: Editora da UNIJUÍ.
2008 Do suicídio. Tradução de Lívia Guimarães. In: Os Filósofos e o Suicídio (Coleção Travessias). Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais.
2008 Da delicadeza da paixão e do gosto. Tradução de Lívia Guimarães. In: Os Filósofos: Clássicos da Filosofia. Pecoraro, Rossano. (Org.) vol. I. Rio de Janeiro: Editora PUC Rio – Editora Vozes.
2009 Tratado da natureza humana. Uma tentativa de introduzir o método experimental de raciocínio nos assuntos morais. Tradução de Débora Danowski. 2 edição, revista e ampliada. São Paulo: Editora da UNESP / Imprensa Oficial do Estado.
2010 Investigação sobre o entendimento humano. Organização e tradução de Alexandre Amaral Rodrigues. São Paulo: Editora Hedra.
2010. Da liberdade e necessidade (Seção 8 da Investigação sobre o entendimento humano). Tradução de José Oscar de Almeida Marques. In Marçal, Jairo (org.) Antologia de Textos Filosóficos. Curitiba: Secretaria de Estado da Educação do Paraná (nova tradução preparada especialmente para essa edição).
2011 A arte de escrever ensaio e outros ensaios: (morais, políticos e literários). Seleção Pedro Paulo Pimenta. Tradução de Márcio Suzuki e Pedro Paulo Pimenta. São Paulo: Iluminuras, 2008.
2011 Do padrão do gosto. Tradução de Rafael Fernandes Barros de Souza. In: O padrão do gosto na filosofia de Hume: um argumento e os seus aspectos. Dissertação de mestrado. Orientação: José Oscar de Almeida Marques. Campinas: Unicamp, p. 103-126.
2011 Carta à sra. Dysart de Eccles. Tradução de Pedro Paulo Pimenta. Folha de São Paulo, Ilustríssima 07/08/2011.
2011 Dissertação sobre as paixões. Tradução: Jaimir Conte. Revista Princípios. v.18, n.29, jan./jun. 2011, p. 371-399.
2013 Uma investigação sobre os princípios da moral. Tradução e apresentação de José Oscar de Almeida Marques. 2a edição. São Paulo: Ed. Unicamp.
2013 Uma espécie de história da minha vida. Tradução de Jaimir Conte. Revista Litterarius. v. 12, n.2, 2013.
2013 O estoico. Tradução de Marcos Balieiro. Anais de Filosofia Clássica, v. 7 n.13, 2013.
2016 Diálogos sobre a religião natural. Tradução, notas e posfácio de Bruna Frascolla. Salvador: EdUFBA. (Inclui seleção de cartas de Hume feitas à época de sua revisão da obra, além de fragmentos inéditos em português.)
2015 História da Inglaterra. Da invasão de Júlio César à Revolução de 1688. Tradução de Pedro Paulo Pimenta. São Paulo: Editora da Unesp.
2017 Um ensaio histórico sobre a cavalaria e a honra dos modernos. Tradução e apresentação de Marcos Balieiro. Revista Prometeus. n. 23.
2017 Da simplicidade e do refinamento na escrita. Tradução de Bruno Henrique de Souza Soares. Controvérsia, São Leopoldo, v. 13, n. 2, p. 156-162.
2021 O cético. Tradução e apresentação de Marcos Balieiro. Sképsis: Revista de Filosofia. Vol. XII, N. 22, p. 136-51.